quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Freud: sobre o homem e a cultura


 A teoria freudiana sobre a sociedade era um tanto quanto pessimista com seu porvir. O meio social dita as normas do que é correto e errado, e o indivíduo é dependente e impotente perante toda malha social. Assim se fomenta a tensão homem e meio social.  A sociedade impõe ao homem certos mecanismos coercitivos que vão lhes tolher e fazê-los ser comportados e disciplinados perante a ordem vigente.
Desta forma se formula um superego forte que através dos mecanismos de culpa, punição e rejeição construirão o homem dócil e apto para a convivência com os outros. A imagem patriarcal é imposta em toda criança como pressuposto básico de respeito e medo.
Assim imputando a culpa o indivíduo passa a obedecer fielmente às ordens dadas e passa a reprimir sua libido assim se tornando cada vez mais saturado.
A busca de cada indivíduo por prazer é embarreirada pelas exigências sociais, sendo então frustradas e refreadas, assim se sublima os instintos básicos, para que possa ser aceito pelos modos civilizatórios, assim o homem reprimido e casto vive num intenso conflito com meio social, numa hostilidade.
Desta forma vive-se num sistema de repressão e canalização da energia libidinal em atos aceitáveis, sendo gratificados por um redirecionamento dos instintos, como exemplo: a bebida e o fumo.
Podemos canalizar nossos instintos básicos agressivos para a guerra, onde os indivíduos liberam toda sua energia armazenada reprimida, e toda frustração de não poderem agir conforme seus impulsos agressivos, antissociais e ali que ele encontra lugar e se apresenta num efeito catártico.
 Freud tem a visão de que quanto mais civilizado mais destrutivo este homem será, pois com a repressão de sua libido e a sublimação de outros atos, juntamente com a sua vontade de guerrear, de pôr a prova seu impulso agressivo com o ato de combater. Este indivíduo será cada vez mais letal a si mesmo quanto mais liberar um grande contingente de sua energia, de forma catártica, neste ato.
A antropologia faz uma crítica a esta visão de Freud, já que ele dá ao carácter social uma visão determinista em que a sociedade era simplesmente uma força inibitória que coloca o homem “nos trilhos”, cada sociedade cria possibilidades criativas ou destrutivas, necessidades e interesses díspares, em que não podemos subjugar em um modelo eurocêntrico de análise social. O mesmo ocorre com o complexo de édipo em que em determinadas sociedades não funciona, este modelo, de desejo incestuoso dos filhos pelos pais. (Como exemplo nas sociedades matriarcais)
Há também a visão freudiana sofre a inveja do pênis das mulheres pelos homens que foi e é muito criticada em diversos campos científicos e sociais.
No que tange a necessidade universal de guerrear, como método catártico também não se vê em todas as sociedades. A sociedade não servindo somente como fonte inibitória, mas também de interação positivo dos indivíduos entre si que criam e recriam seus meios através de descontentamentos, revoltas e revoluções se faz cair um certo poder vigente e se instaura outro, com uma nova discursividade aceitável que passará a reger um meio social transformado a partir de suas reinvindicações e tomada de poder.
O Homem para Freud é essencialmente antissocial, e a sociedade o modela, domestica-o e o civiliza. A terapia freudiana visa tornar este indivíduo mais apto as repressões sociais, ela entende que há, porém não quer mudá-la, para não atingir a moral e os preceitos éticos, visa seguir a lógica de que a sociedade reprime e os indivíduos acatam assim não fazendo estes que são pacientes como seres agentes e transformadores de sua realidade mais impondo a estagnação no preceito de que devemos ser bem-comportados.
 As estruturas e dinâmicas sociais, não são simplesmente algo estático e inibitório que através de seus mecanismos coercitivos impõe certas ideologias nos indivíduos, estes que devem ser como seres ativamente transformadores, que podem construir e destruir sua realidade vigente em prol de outras ideias, há uma intensa interação entre o indivíduo e o meio social e não a estatismo de seres passivos e inertes que sofrem a ação do ambiente social.

Os poderes e saberes engendrados por cada sociedade não são simplesmente repressivos, inibitórios e castradores e sim, produtivos, principalmente no que tange ao lado econômico, de produção de excedentes de riquezas para determinadas classes sócias, assim se fomenta a malha social em toda uma astuciosa forma de se colocar saberes científicos ou não que iram reger capilarmente toda uma estrutura social que está baseada, isto falando das sociedades modernas, na construção de personalidades dóceis, ou seja, produção de subjetividades. É preciso pensar o poder como algo que não está só na esfera institucional público-política e sim em toda a sociedade e também não ver como algo que é simplesmente negativo, e sim positivo, certas vezes mais positivo que negativo. 

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma breve visão marxista do capitalismo


A exploração capitalista intensifica as relações alienantes e fetichizadas na sociedade, através do consumo exacerbado e da alta produção em um curto período de tempo (taylorismo, fordismo). Diferente da época da escravidão, (sociedades antigas ou sociedades modernas coloniais) quando o trabalhador era a mercadoria em si, na servidão o trabalhador está preso ao cultivo na terra, já no assalariamento, a força de trabalho é a mercadoria, vendendo assim sua força de trabalho em troca duma remuneração para seu sustento.

A realidade capitalista começa a vigorar no final da Idade Média, com o surgimento duma nova classe social que se confronta com as ordens sociais vigentes, que eram fixas, estamentais. Os burgueses estavam engajados na prática comercial, de lucro, e assim foram contra os ideais da Igreja Católica, assim fazendo surgir novas correntes religiosas que pregavam a usura, o protestantismo (reforma protestante).

Assim a prática comercial se delibera e pouco a pouco começa a avançar e se expandir ao longo do mundo passando por diversas etapas até chegar ao que temos hoje. Tem se três etapas do capitalismo: Comercial, industrial e Financeiro.

O Capitalismo comercial, como já dito antes, foi com o surgimento da burguesia que começou a se instalar nas cidades muradas ou burgos e passou a comercialização em grande escala, através do mercantilismo, acumulação de metais e pedras preciosas. Surgimento das grandes navegações e explorações da África, Ásia e América, através da colonização (metrópole e colônia).

A segunda etapa do capitalismo, se deu com a Revolução industrial, onde a produção aumentou largamente e em que se passa duma produção manufatureira para uma produção industrial. A realidade do período Industrial era: Grandes jornadas de trabalho, crianças e mulheres na produção, locais insalubres, baixa remuneração, não havia leis trabalhistas.  Nesse espectro surge o pensamento de Karl Marx e sua grave crítica e denuncia do capitalismo, propondo uma nova ideologia transformadora, chamada comunismo, onde os meios de produção estariam com os próprios trabalhadores e não haveriam uma instituição pública que administrasse os comportamentos sociais, econômicos e políticos duma sociedade, ou seja, não haveria Estado e sim todos produzindo conforme suas necessidades e capacidades em prol do coletivo. O filme "Tempos modernos" se situa nesta época denunciando a produção alienada em massa onde os trabalhadores devem somente pensar na produção mecânica e automatizada.

A terceira etapa, tem como características: A  fusão do capital bancário com o industrial, em que se preza os grandes lucros , grandes crises cíclicas (crise de 29, crise de 2008), avanço tecnológico, surgimento do liberalismo (não intervenção estatal, laissez-faire, liberdade econômica, "mão invisível" , mercado controlando as ações econômicas), globalização, neoliberalismo (medidas de disciplinas orçamentárias austeras, barramento da ação sindical, não intervenção do Estado na econômica, exército de reserva e desigualdade social), multinacionais e Terceira Revolução Industrial. Esta é a etapa atual, na qual vivemos.


Pode-se concluir que todas estas etapas do capitalismo tem em comum: a exploração do homem pelo homem, a reificação do Homem ( o homem torna-se objeto, algo a ser manipulado, manejado e tornado produto sem consciência de sua prática laboral), alienação (perda dos meios de produção dos proletários, onde este se encontram em situação desigual de troca perante seus patrões), fetichização ( a mercadoria ganha vida , se solidifica e se universaliza, o que era para atender uma necessidade, torna-se uma vontade independente que controla as ações dos próprios produtores, que agora estão assujeitados a ela), mais-valia ( exploração da mão de obra assalariada retirando o excedente da produção do proletário e transformando em lucro) e produção de subjetividades através da ideologia burguesa dominante ( os indivíduos são docilizados, tornados submissos e assujeitados politicamente a uma mentalidade servil e são transformados em indivíduos altamente produtivos economicamente. Sempre prezando ao consumo em massas das mercadorias).

Erro na visão ocidental


A visão tradicionalista utiliza o erro como conduta transgressora que deve ser punida, através de mecanismos de castigo, tais como: ameaças, ridicularizações ou exposição ao ridículo, imposição do medo de errar e violências veladas. A tendência tradicional acabou sedimentando visão interpretativa e expandiu no tecido sócio-educacional (visão advinda da moral cristã ocidental que foi importada para educação).

Dá se ao erro uma visão culposa e "ortopédica", ou seja, exacerbação do ato de corrigi-los. A prática de punição é adotada, pois se existe um paradigma a ser atingido, a se estar e se caso a atitude, a resposta, ou o anseio estiver fora do padrão previamente estabelecido, se é punido e culpado pelo desvio, esta culpa segundo o filósofo Nietzsche advém da moral cristã Ocidental. 

Numa educação que está voltada a sua atenção para promoção, para o exame, para as médias e os resultados deles advindos; vê o erro como algo que deve ser barrado e não aproveitado para logo após, incutir, armazenar e acumular dentro dos " receptáculos" estudantis o correto, o direito, o claro, para que assim sempre possam saber o que se deve ser feito, memorizado, buscado. Desta forma, desembocando na procura incessante dum bom aproveitamento nos exames (fetiche), retirando a consciência crítica do educando e lhe incutindo a reprodução de conhecimentos e fatos mecânicos e fixos.


Portanto, devemos desvincular o erro como conduta a ser culpada, repreendida e duramente punida, para torná-lo algo que devemos olhar, analisar e reutilizar para que dali o indivíduo possa tirar o melhor proveito de sua prática de aprendizagem, vendo o erro não como castigo e sim como virtude que deve ser reorientada para se alcançar o esperado na prática docente, buscando sempre o desenvolvimento e crescimento do educando em sua ação ativa do aprendizado. O erro é uma qualidade do processo de aprendizagem, ou seja, um ponto qualquer que sofreu algum desvio ou engano que, no entanto, não deve ser penalizado e sim reorientado para que possa atingir o sucesso, através da auto compreensão e crítica da sua atitude.

A loucura: Uma construção sócio-histórica

           
                                                                   
Muito se discute acerca da loucura, fenômeno social que desde tempos antigos foi visto como uma questão de segregação e controle. Mas por onde anda a verdade da loucura?
A loucura passou por diversas formulações discursivas ao longo do tempo, e estas fomentaram o terreno em que a loucura é denominada.  Na idade antiga os loucos eram até vistos como seres aquém do intelecto humano, algo sobrenatural, viviam em florestas as vezes isolados, iam e viam para as cidades. Da idade média para a idade moderna, a construção discursiva da loucura mudou, e esta passou a ser “separada”, segregada e dita como anormal (segregação razão e desrazão).
Com a criação de novas ciências no período da modernidade, século XVIII, o pensamento da loucura ganha novas roupagens, a Psiquiatria foi uma ciência médica que trouxe explicações e medidas medicamentosas e práticas para cuidar dos loucos.
A Psicologia foi outra ciência mais antiga que a Psiquiatria, que visava a cura pela palavra, sustentada na dinâmica terapêutica, paciente e psicólogo, onde dialogam, e através da lembrança do passado e a discussão da presente situação do paciente  buscam as causas da patologia mental, esta arte terapêutica da Psicologia, advém da Psicanálise Freudiana, que visava a cura pelas palavras, porém há abordagens psicológicas que não se fundamentam numa pratica terapêutica e visa simplesmente explicar o comportamento da alma humana num arcabouço teórico, por exemplo: O Funcionalismo, de William James.  
Houve mudanças de comportamentos perante a loucura, com o psiquiatra Pinel, que reformou a maneira de tratamento da loucura nos hospícios, tornando-a mais “humana”, retirando os castigos dados aos enfermos mentais, libertando-os das correntes que literalmente eram presos.
                  E então, o que causa a loucura? Quem detém a verdade da loucura? Segundo o filósofo francês Foucault, ninguém a detém e a Psicologia é simplesmente uma mera película onde o homem busca a verdade sobre si. Dizendo também que nunca a Psicologia deterá a verdade da loucura, já que esta é que está subordinada à loucura, a verdade psicológica depende do jogo trágico da loucura, e apenas ao se descampar dos domínios racionais, o homem chegará ao cerne ou tentará chegar a loucura.
Para Foucault, o que se chama de doença mental, é apenas a loucura alienada no jugo da Psicologia que tenta a todo custo buscar uma verdade e nela construir seu discurso e espalhar no meio social uma regra de normatização, de gerenciamento, de construção dum discurso dominante e predominantemente aceito pela sociedade (épisteme).
A loucura é uma sedimentação negativa da sociedade ocidental (a que analisamos) onde se criam barreiras, dispositivos, conceitos, espaços e discursos que a aprisionam e tentam através de métodos coercitivos e de confissão buscar sua verdade e assim imprimir um controle de subjetividades.
Portanto, devemos nos desprender do amarrado científico-racional em que a loucura foi posta, onde somos enquadrados, normatizados e segregados. Há um mal-estar social que criou toda esta balburdia do mundo contemporâneo, somos levados a tomar decisões racionais e burocráticas o tempo todo e sempre escamoteando nossos instintos, prazeres e paixões em prol dum senso civilizatório, devemos o tempo todo canalizar e sublimar nossos instintos primitivos, e com toda esta supersaturação cria um indivíduo “pesado”, sobrecarregado e doente.
A loucura deve tomar sua linguagem de origem, seu enlace natural e orgânico, sua versão que é demasiadamente humana, e não artificializada por construtos morais e psicológicos.

Patolgizamos o corpo, classificamos e o tornamos útil e produtivo, porém doente e passível dos piores atos possíveis, pois se é introjetando repressões compulsórias, através duma moral resignatária, que se cria “indivíduos-bombas”, propensos a explodir a qualquer momento, pois “onde há poder há resistência”. Deve se haver sim, o autocontrole pleno e sadio, que procurem os preceitos morais afirmativos da vida e não a moral patriarcal, compulsória e castradora.