A teoria freudiana sobre
a sociedade era um tanto quanto pessimista com seu porvir. O meio social dita
as normas do que é correto e errado, e o indivíduo é dependente e impotente
perante toda malha social. Assim se fomenta a tensão homem e meio social. A sociedade impõe ao homem certos mecanismos
coercitivos que vão lhes tolher e fazê-los ser comportados e disciplinados
perante a ordem vigente.
Desta forma se formula um superego forte que através dos
mecanismos de culpa, punição e rejeição construirão o homem dócil e apto para a
convivência com os outros. A imagem patriarcal é imposta em toda criança como
pressuposto básico de respeito e medo.
Assim imputando a culpa o indivíduo passa a obedecer fielmente
às ordens dadas e passa a reprimir sua libido assim se tornando cada vez mais
saturado.
A busca de cada indivíduo por prazer é embarreirada pelas
exigências sociais, sendo então frustradas e refreadas, assim se sublima os
instintos básicos, para que possa ser aceito pelos modos civilizatórios, assim
o homem reprimido e casto vive num intenso conflito com meio social, numa
hostilidade.
Desta forma vive-se num sistema de repressão e canalização da
energia libidinal em atos aceitáveis, sendo gratificados por um
redirecionamento dos instintos, como exemplo: a bebida e o fumo.
Podemos canalizar nossos instintos básicos agressivos para a
guerra, onde os indivíduos liberam toda sua energia armazenada reprimida, e
toda frustração de não poderem agir conforme seus impulsos agressivos, antissociais
e ali que ele encontra lugar e se apresenta num efeito catártico.
Freud tem a visão de que
quanto mais civilizado mais destrutivo este homem será, pois com a repressão de
sua libido e a sublimação de outros atos, juntamente com a sua vontade de
guerrear, de pôr a prova seu impulso agressivo com o ato de combater. Este
indivíduo será cada vez mais letal a si mesmo quanto mais liberar um grande
contingente de sua energia, de forma catártica, neste ato.
A antropologia faz uma crítica a esta visão de Freud, já que ele
dá ao carácter social uma visão determinista em que a sociedade era
simplesmente uma força inibitória que coloca o homem “nos trilhos”, cada
sociedade cria possibilidades criativas ou destrutivas, necessidades e
interesses díspares, em que não podemos subjugar em um modelo eurocêntrico de
análise social. O mesmo ocorre com o complexo de édipo em que em determinadas
sociedades não funciona, este modelo, de desejo incestuoso dos filhos pelos
pais. (Como exemplo nas sociedades matriarcais)
Há também a visão freudiana sofre a inveja do pênis das mulheres
pelos homens que foi e é muito criticada em diversos campos científicos e
sociais.
No que tange a necessidade universal de guerrear, como método
catártico também não se vê em todas as sociedades. A sociedade não servindo
somente como fonte inibitória, mas também de interação positivo dos indivíduos
entre si que criam e recriam seus meios através de descontentamentos, revoltas
e revoluções se faz cair um certo poder vigente e se instaura outro, com uma
nova discursividade aceitável que passará a reger um meio social transformado a
partir de suas reinvindicações e tomada de poder.
O Homem para Freud é essencialmente antissocial, e a sociedade o
modela, domestica-o e o civiliza. A terapia freudiana visa tornar este
indivíduo mais apto as repressões sociais, ela entende que há, porém não quer
mudá-la, para não atingir a moral e os preceitos éticos, visa seguir a lógica
de que a sociedade reprime e os indivíduos acatam assim não fazendo estes que
são pacientes como seres agentes e transformadores de sua realidade mais
impondo a estagnação no preceito de que devemos ser bem-comportados.
As estruturas e dinâmicas
sociais, não são simplesmente algo estático e inibitório que através de seus
mecanismos coercitivos impõe certas ideologias nos indivíduos, estes que devem
ser como seres ativamente transformadores, que podem construir e destruir sua
realidade vigente em prol de outras ideias, há uma intensa interação entre o
indivíduo e o meio social e não a estatismo de seres passivos e inertes que
sofrem a ação do ambiente social.
Os poderes e saberes engendrados por cada sociedade não são
simplesmente repressivos, inibitórios e castradores e sim, produtivos,
principalmente no que tange ao lado econômico, de produção de excedentes de
riquezas para determinadas classes sócias, assim se fomenta a malha social em
toda uma astuciosa forma de se colocar saberes científicos ou não que iram
reger capilarmente toda uma estrutura social que está baseada, isto falando das
sociedades modernas, na construção de personalidades dóceis, ou seja, produção
de subjetividades. É preciso pensar o poder como algo que não está só na esfera
institucional público-política e sim em toda a sociedade e também não ver como
algo que é simplesmente negativo, e sim positivo, certas vezes mais positivo
que negativo.